Velha Palma, o tempo oferece, a todos, momentos de magia e simplicidade nos cenários do viver. Hoje, abri o arquivo das minhas lembranças e recordei-me de tantas coisas dos meus dias de menino e de adolescente na tua bucólica ambiência, vividos no decorrer das décadas de 1950 e 1960.
Eras, sim, provinciana, porém extremamente decente e elegante. Teus senhores e senhoras, embora pouco letrados, eram atentos ao cumprimento de seus compromissos, deveres e encargos. Tinham a noção do coletivo. Demonstravam zelo pelo patrimônio público. Lutavam pelo progresso e desenvolvimento do município. A cidadania resplandecia na sociedade de então, tendo como reflexo a serenidade e a seriedade nas atitudes, feitos e decisões. Tempos das canções, do respeito mútuo, da solidariedade e, acima de tudo, da responsabilidade social e da obediência às normas e aos códigos legalmente constituídos, sem esquecer os princípios cristãos e éticos que balizam uma comunidade.
Minha idolatrada terra, o teu caminhar parece-me contraditório. Já faz um bom tempo que tua gente ostenta mais robusteza nas letras, possuindo diplomas e títulos, todavia não deixa transparecer espírito de luta nem vigoroso senso crítico. Desde os últimos anos do século vinte, tu vives um processo de crescente involução, justamente quando dispões de mais meios, mediante transferência, mensal, de recursos do governo federal para a saúde, a educação, a infraestrutura, a ação social e outras áreas, que deveriam propiciar um grau maior de bem-estar à população. Mas, infelizmente, não é o que vem acontecendo... Por que chegaste a este estágio?
A primeira década do Século XXI está se exaurindo, pouco ou quase nada foi realizado pelo poder público municipal em benefício do progresso da cidade, do município e de seu povo. As obras concluídas ou em andamento são realizações dos governos: federal e estadual, nenhuma proveitosa iniciativa da prefeitura figura neste elenco. Nada que fomente orgulho, brilho e desenvolvimento social salta aos olhos de quem visita à terra de Dr. Raimundo Gomes e de tantos outros coreauenses de fibra que, em vida, almejaram e lutaram pelo sucesso da velha Palma. Triste sina, meu torrão natal!
Machado de Assis, renomado escritor brasileiro, in Várias Histórias, 1896, leciona: “O presente que se ignora vale o futuro.” É tempo de ser considerada esta verdade singular. Coreaú precisa, urgentemente, ressurgir do marasmo em que se encontra.
O controle da gestão municipal, além do acompanhamento efetuado pelos órgãos competentes, destaca-se, também, como atribuição regular da sociedade local, respaldada pela Constituição Federal. Portanto, deve ser exercida, com firmeza, em caráter permanente. Dos distritos, já ecoam fortes gritos de alertas. Unir esforços, numa ação cidadã e democrática, buscando reverter essa insólita situação, desponta como posicionamento, imprescindível, pertinente a todos os coreauenses.
Há muitos anos, Coreaú perdeu o bonde da história, do progresso e das grandes conquistas. Cabe à população refletir sobre esse tempo de inércia, porque repercutirá profundamente na vida da cidade, do município e das gerações vindouras. O futuro parece comprometido.
A noite de natal fez brilhar a esperança e a fraternidade, assinalando que o Deus Menino renasceu para que a vida seja plena para todos. Assim, é lícito desejar que, no município de Coreaú, o bem público seja usado em benefício da coletividade.
Neste contexto, aproveito a oportunidade, para desejar um Próspero Ano Novo aos meus conterrâneos e amigos. Com ardente fé, rogo ao Menino de Belém que conceda a Coreaú o privilégio de encontrar o caminho do desenvolvimento no ano que se aproxima.
Sobral, 30 de dezembro de 2010 Leonardo Pildas
Fonte: Coreausiará