Tem uma ironia popular que diz: “Engana, que eu gosto”. É o que acontece com a população de um modo geral. No Dia Internacional da Mulher, a grande homenagem que o governo anuncia é a expedição gratuita e temporária do CPF para as mulheres. E disso faz uma propaganda gigantesca, em vez de anunciar programas de valorização e proteção da mulher, uma justiça que lhe assegure o direito de viver, de ser feliz, em face dos altos índices de violência de que ela continua sendo vítima. O Ceará mesmo, terra da Maria da Penha, é um dos palcos de maior violência doméstica.
Acompanhamos pelas imagens da televisão, mães revoltadas nos hospitais públicos porque não são atendidas com os filhos doentes por falta de médicos e de leitos. Ou humilhadas no interior de suas casas nas áreas de risco tomadas pelas enxurradas, quando não são expulsas para abrigos improvisados e insalubres porque não têm onde morar com segurança e dignidade. E outras aos prantos na crônica policial sem saber o que fazer com os adolescentes, crianças que enveredaram pelas drogas e pela criminalidade. Em meio a toda essa tragédia das mães e das famílias pobres, percebe-se uma indiferença escarninha, a ponto do assunto principal dos governantes e dos políticos na imprensa ser a próxima eleição: quem o governador vai ou não apoiar para prefeito de Fortaleza.
Se Acrísio Sena, o preferido da prefeita Luizianne Lins, ou se Camilo Santana, um dos preferidos do governador. Enquanto isso, nem o Hospital da Mulher nem os hospitais regionais tão amplamente prometidos nas campanhas eleitorais financiadas com o dinheiro público que deveria ser prioritário para essas obras. Em vez da inauguração de algo objetivo e concreto que acrescente alguma esperança, alguma melhoria na vida das mulheres, em homenagem ao dia que lhe é dedicado, as prefeituras, governos estaduais e federal estão preocupados é com a difusão de mensagens mentirosas e o financiamento de festas como o carnaval. É nesse período em que ocorrem maior número de assédio sexual às crianças e adolescentes, envolvimentos com alcoolismo e drogas, além das práticas de estupros e abortos. Muitas dessas jovens e mães terminam na prisão como “mulas”, que transportam drogas nas partes íntimas em troca de uma gorjeta de miséria. São essas as homenagens reservadas à mulher.
É hora de acabar com essa farsa, com a conversa fiada destinada a explorar os sentimentos da mulher, fingindo o interesse pelo seu futuro com o um discurso meloso e vazio que apenas engana e adia os seus sonhos mínimos de uma família feliz, com pão na mesa, casa digna, uma boa escola, um bom hospital, um emprego certo, o acesso à universidade, a segurança, a independência e o respeito. A mulher não quer CPF gratuito, quer condições dignas de cidadania para arcar com os seus deveres, responsabilidades e custear com o seu suor o seu próprio futuro.
Wanderley Pereira
Fonte: Blog da Janga