Ar@quém News - domingo, 7 de abril de 2013

1º pernoite e visita ao topo da serra da Penanduba


A serra da Penanduba surge imponente em meio ao sertão que une os municípios de Coreaú e Frecheirinha. Com seus 530m de cume, repleta de mistérios e riquezas negligenciadas pela população dos arredores, encara soslaia os arruamentos de nossa região, açudes e demais edificações humanas,... insignificantes ante a Criação, mas que representam risco. 

Desde cedo, ouvimos os relatos de encontros com os famosos macacos guaribas por lá, além de onças pardas e as cobras cascavéis que amedrontam propensos visitantes. Durante o inverno, ao menor sinal de chuva, já enverdece e fica ainda mais exuberante e cheia de vida. Pois nesse período, que reavive as belezas mas também os riscos, decidimos nos aventurar a pernoitar nela e chegar ao topo.

Partimos ontem, 06 de abril de 2013, em grupo formado por quatro membros, Augusto, Benedito, Hélio e Tainá, às 8h da manhã, de Araquém. Na bagagem, mantimentos, água, cordas, rede, lençol, plásticos... o básico. De bicicleta, chegamos até o sopé, onde as guardamos, e nos preparamos para encarar a subida; deparamo-nos então com o improviso: três de nós fizeram de sacos plásticos mochilas, amarrando-as com cordas, em forma de alças, assim em caso de rasgar nos galhos é menor o prejuízo, se bem que não são das mais confortáveis. Dois mais protegidos com calça comprida, já Benedito e Tainá (nosso guia) de canelas nuas e chinelos, arrependeram-se depois, ao encarar a trilha apinhada de cansanção e diversos outros tipos de urtiga, dando até ânsia passar pelas moitas que davam na altura da cintura. 

Seguimos em caminho pedregoso, até dar com os primeiros rochedos. Lanchamos e restava encarar, de fato, a imponência da serra. À frente, um grande paredão de rocha que aos poucos tem se deteriorado com desabamentos; há relatos de um dos grandes na década de 60, que modificou bastante sua aparência. Eventualmente, cai uma pedra, provocando grande estrondo. Nota-se as fendas naturais do processo de formação das rochas, camada após camada, evidenciadas pela ação da água que escorre nelas, e vai abrindo espaço, até que chega a hora de despencarem. A vida prolifera também ali, com trepadeiras, chique-chiques, rabudos, mocós, uma variedade extensa de vida macroscópica e microscópica.

Caminhando mais, os obstáculos aumentam, verticalizando progressivamente, até que tivemos de escalar um grande aglomerado de rochas, perigoso, dado que fiquem lisas por musgo e nem sempre há onde se apoiar com segurança; além do mais, as pedras não são plenamente afixadas, requerendo muito cuidado a quem pisa, incorrendo no risco de cair. Na medida em que se sobe, abaixo se vê que a queda pode ser ainda mais indesejável. O cansaço bate e se permitir vez ao medo é pior, pois pode travar na metade do caminho e descer não é mais simples.

Etapa de escalada vencida, o trecho fica menos íngreme, com menos pedras e mais árvores e arbustos para se segurar. É uma vegetação típica de floresta tropical, mais frondosa que há embaixo, talvez porque seja de mais difícil acesso e assim consigam se preservar por mais tempo para engrossar. Contudo, se antes haviam ipês que floresciam colorindo a serra, hoje são raros e pouco expressivos em porte os que restaram. O local também é alvo de caçadores, que vão à busca dos poucos animais que ainda restam por lá, sobretudo os rabudos. São nítidos os montes de fezes desses roedores perto das fendas de pedras, e eventualmente ainda atentam (os caçadores) contra a vida de guaribas, mesmo que não as comam ou vendam, matar por matar. Esse animal, muito ameaçado pela deterioração de seu habitat natural, encontra refúgio na Penanduba, andando aos bandos e se alimentando de frutos de árvores nativas; é característica sua vocalização em conjunto, ecoando pela serra. Sem dúvida, o macaco guariba é o rei da Penanduba. Um animal dessa singularidade não pode sucumbir perante a ambição e ignorância humana.

Armamos nosso acampamento na metade da subida, com vista para o Araquém ao longe, Cunhassu dos Sales a um extremo da perspectiva e Arapa e Viçosa do Ceará noutro. Fogueira feita, hora de almoçar. Depois de um merecido descanso, à sombra das árvores, os trovões começam a sussurrar ao longe, sinal de chuva. Não temos barracas para nos proteger, então o jeito é resguardar ao menos as coisas.

Seguimos adiante, abrindo trilha, para chegar ao cimo de sua fatia onde nos encontrávamos. A chuva começa a cair, servindo até mesmo de alívio, livrando-nos das moscas e do suor que nos cobria, entretanto encharcando as roupas. Com medo dos relâmpagos, somos obrigados a descer ao acampamento, reacender a fogueira e preparar-nos para a noite.

Ao anoitecer, a fogueira é essencial para se proteger dos animais e para espantar o frio. Uma neblina encobre vez ou outra a serra trazendo umidade que encharca as redes. Quem trouxe lençol fino ou nada para se cobrir, à madrugada, teria de se virar com lonas e plásticos. De Araquém e redondezas, a fogueira de onde estávamos era visível.

A manhã do dia 07 chega e o sol demora a alcançar a lado oeste da serra (onde estávamos). Depois de comer o que sobrara dos mantimentos, é partir, finalmente, ao topo. A vegetação do topo é cada vez de menor porte. Antigamente, fazia-se roça por lá; isso, além de outras características geográficas diversas, interfere. Encontramos diversos vestígios de incêndio.

Numa ponta, ao longe, após ter de subir numa árvore em busca duma visão adequada, podemos perceber Ubaúna e Frecheirinha. Mais adiante, uma visão bela do extremo de Araquém e região, com açude Angicos se destacando por seu porte. Enquanto fotografávamos a paisagem, tranquilo, um macaco guariba solitário aparece em meio aos galhos de árvores. Aparenta não se incomodar muito com nossa presença. Tentamos um ângulo bom para registrá-lo, mas a distância atrapalhou. Passado um tempo, pula, graciosamente, abraçando o ar, agarra outra árvore mais baixa e some em meio à vegetação. Já valeu a viagem.

Bem ao meio da serra, há um penhasco muito íngreme e alto. De lá, para experimentar, jogamos uma pedra e cronometramos o tempo que ela levaria para chegar ao chão; custou quase quatro segundos, o que é tempo suficiente para assustar qualquer um que se aventure a se achegar à sua beira.

O tempo já contava contra, chegara a hora de partir, fazer todo o trajeto novamente. Pegamos nossas coisas... A descida é mais complicada, das pedras adiante as pernas já fraquejam. Ao chegar novamente ao pé da serra, fitamos a imponência. Resta a certeza de que é uma riqueza e tanto, uma viagem difícil, mas que vale cada gota de suor, e há perspectivas de outras expedições melhor organizadas.

IMAGENS



Rede de José Augusto, um dos integrantes. Sofreu no frio com sua rede fina.

Para o almoço e janta. Cozinheiro Benedito Gomes.
Fogueira para nos esquentarmos a noite.









Açude Angicos.

Outro lado da Penanduba.
Queimadas no topo da Penanduba.
Araquém ao fundo.
Açude Angicos.
Vida!
Augusto, Tainá e Hélio Costa.
Abaixo um grande penhasco.
Fruto diferente.
 

Paredão enorme no fundo da imagem.
Corte de Árvores no início da Penanduba.
Visão do outro lado da Penanduba.
Augusto, Tainá e Benedito Gomes.
Pequena carverna.
Tainá, Augusto e Benedito Gomes no improviso.
Macaco Guariba ao fundo. Foto 1. 
Macaco Guariba - Foto 2.
 Texto Benedito Gomes - Fotos: Hélio Costa

Comentários
1 Comentários

Um comentário:

Galba Gomes disse...

Impressionante relato dos desbravadores. Lamentável a destruição humana da faúna e flora. Penanduba, faz-me recordar um pesonagem humano no Coreau, chamado de Penanduba.

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