Se existe justiça na face da Terra, ela se manifestou quando Angelina Jolie e Brad Pitt se casaram. Que duas pessoas tão bonitas, talentosas, carismáticas e ricas se amem e construam uma família em que há espaço para adoção, militância e generosidade é daquelas manifestações raras da natureza humana. Mas a vida é tão frágil...
Acompanhando o debate que se formou sobre a probabilidade (assustadores 87%) de Angelina desenvolver o mesmo câncer de mama e ovário que matou sua mãe aos 56 anos, meu primeiro movimento foi o de uma profunda perplexidade. Não sou médico, mas sei que eles existem em vários graus de competência, e são capazes de nos torturar com diagnósticos opostos e igualmente razoáveis. Quem já se viu diante de uma doença grave e mortal acabou descobrindo que a última palavra é sempre do paciente. É muito solitário, intransferível.
O que me surpreendeu nessa história, da qual a princípio me afastei, por algum tipo de respeito inconsciente, foi ver a fúria com que algumas pessoas reagiram à decisão extrema da atriz. Na turma do fundão, quem jogou tomates, ovos e desaforos com a habitual competência foi meu colega Andre Forastieri. É muito engenhosa a maneira como ele desconstrói a “heroína cretina”. Pena que seu artigo seja uma confissão involuntária travestida de tratado freudiano.
Dos calabouços de sua alma, Forastieri deixa escapar certa misoginia (aquele distúrbio caracterizado pelo medo do corpo feminino). Não é difícil perceber que, ao dispor de seus seios e útero, Angelina também está esfregando na cara de todos os homens, mais uma vez, que seu corpo tem dono: ela mesma. Como senhora de si, faz o que bem entender. Isso, vindo de uma pessoa tão sexy e poderosa, incomoda.
É preciso ser muito arrogante ou rancoroso para não entender a coragem e a grandeza da decisão que a mulher considerada a mais linda do mundo tomou. Ao aceitar que seu corpo, ícone de feminilidade e beleza, seja amputado, pode parecer uma daquelas punições bíblicas ou uma autoimolação doentia. Para mim, é apenas uma tragédia inescapável, cruel, à altura de grandes personagens.
Não vi na decisão de Angelina nada de heroico. Ao se expor de forma tão violenta, duvido que ela esteja querendo servir de exemplo. Sinceramente, creio que o que a moveu foi algo muito humano: medo. Seu comunicado foi um pedido de socorro e não um surto egocêntrico. Não enxergar sofrimento e dor nesse gesto é muito mais perverso do que o suposto e delirante desejo de beatificação que a estaria movendo.
Angelina é uma figura pública, planetária. Uma grande mulher. Sim, poderia ter feito o que fez silenciosamente. Preferiu gritar. Eu ouvi.
Acompanhando o debate que se formou sobre a probabilidade (assustadores 87%) de Angelina desenvolver o mesmo câncer de mama e ovário que matou sua mãe aos 56 anos, meu primeiro movimento foi o de uma profunda perplexidade. Não sou médico, mas sei que eles existem em vários graus de competência, e são capazes de nos torturar com diagnósticos opostos e igualmente razoáveis. Quem já se viu diante de uma doença grave e mortal acabou descobrindo que a última palavra é sempre do paciente. É muito solitário, intransferível.
O que me surpreendeu nessa história, da qual a princípio me afastei, por algum tipo de respeito inconsciente, foi ver a fúria com que algumas pessoas reagiram à decisão extrema da atriz. Na turma do fundão, quem jogou tomates, ovos e desaforos com a habitual competência foi meu colega Andre Forastieri. É muito engenhosa a maneira como ele desconstrói a “heroína cretina”. Pena que seu artigo seja uma confissão involuntária travestida de tratado freudiano.
Dos calabouços de sua alma, Forastieri deixa escapar certa misoginia (aquele distúrbio caracterizado pelo medo do corpo feminino). Não é difícil perceber que, ao dispor de seus seios e útero, Angelina também está esfregando na cara de todos os homens, mais uma vez, que seu corpo tem dono: ela mesma. Como senhora de si, faz o que bem entender. Isso, vindo de uma pessoa tão sexy e poderosa, incomoda.
É preciso ser muito arrogante ou rancoroso para não entender a coragem e a grandeza da decisão que a mulher considerada a mais linda do mundo tomou. Ao aceitar que seu corpo, ícone de feminilidade e beleza, seja amputado, pode parecer uma daquelas punições bíblicas ou uma autoimolação doentia. Para mim, é apenas uma tragédia inescapável, cruel, à altura de grandes personagens.
Não vi na decisão de Angelina nada de heroico. Ao se expor de forma tão violenta, duvido que ela esteja querendo servir de exemplo. Sinceramente, creio que o que a moveu foi algo muito humano: medo. Seu comunicado foi um pedido de socorro e não um surto egocêntrico. Não enxergar sofrimento e dor nesse gesto é muito mais perverso do que o suposto e delirante desejo de beatificação que a estaria movendo.
Angelina é uma figura pública, planetária. Uma grande mulher. Sim, poderia ter feito o que fez silenciosamente. Preferiu gritar. Eu ouvi.
O Provocador
