Ar@quém News - terça-feira, 4 de junho de 2013

O que o amor de mãe não é capaz de fazer

Era ano de tempo nebuloso da segunda metade da década dos anos sessenta, em que recrudescera o então regime implantado com o golpe militar de 1964, e numa escola primária de uma pacata e bucólica cidade do interior do Ceará, onde uma jovem professora lecionava matemática e ciências para os alunos do primário, antigo primeiro grau menor. A referida mestra tinha pelo menos um irmão que contemporaneamente estudava na mesma escola em que ensinava.

Na educação, bons tempos eram aqueles, pois mensalmente havia o congraçamento de pais, mestres e alunos em uma grande, calorosa, participativa e interessante festa cívica, que sempre ocorria nas tardes do último sábado de cada mês. Era o acontecimento do dia.

Não se sabe se para dá destaque ao filho ou por superproteção, ou ainda para tentar mostrar/provar que seu filho seria o melhor da turma, e quiçá, até de toda a escola (o que o amor de mãe não faz?!), é que inesperada e inexplicavelmente, numa tarde de um fim de semana, eis que surge na residência da professora a sua tia, reclamando expressa facilitação (nas provas, arguição e nos trabalhos escolares) para o seu filho (primo da mestra, e por tabela, do irmão desta), sob a suposta alegação de que a professora “ajudava” o seu mano, pois morava na mesma casa e poderia “pescar/consultar” com certa facilidade o que a professora iria cobrar dos alunos quando da aplicação dos testes/exames/trabalhos escolares.

O irmão da professora que a tudo ouvia, ficou profundamente ofendido, pois a realidade era outra totalmente diferente do imaginado na falsa alegação de sua tia, mas não podia se manifestar, pois naquela época criança não se metia no meio da conversa de adultos. Hoje tudo é diferente, e para pior, infelizmente. Uma coisa serviu de lição deste triste e lamentável episódio: aumentou a responsabilidade do irmão da professora para manter e até melhorar ainda mais as suas boas notas, e conseguiu, causando inveja e admiração de alguns.

A sobrinha professora ficou horrorizada e perplexa, tendo prontamente retrucado e rechaçado com veemência as absurdas e levianas palavras que sua tia acabara de pronunciar, dizendo ainda que o seu irmão (que estudava com o primo), sequer perguntava qualquer coisa sobre essas duas matérias e que estudava bastante e por conta própria, e não precisava de “ajuda”, vez que só tirava boas notas, inclusive em todas as matérias e não só nas dela, pois ela era clara e direta em sala de aula: “que só cobrava nos exames aquilo que foi dado/ministrado em sala de aula.”. Nada fora disso. E ainda, os exames eram guardados na escola. E mesmo que seu irmão precisasse de nota, jamais faria esse absurdo imaginado e dito pela tia. A sobrinha disse a sua tia que ficou bastante decepcionada e que jamais imaginaria tal atitude da parte dela. A tia ficou tão envergonhada da besteira que fez, que antes de ir embora pediu desculpas e perdão a sobrinha, e ficou um longo tempo sem fazer uma nova visita.

O irmão da professora disse: “Mana, a nossa tia não sabe o que diz.”.

Nesse mesmo ano, o irmão (invejado/admirado) da professora tirou na maioria dos 8 (oito) meses daquele ano letivo o primeiro lugar geral da escola (as melhores/maiores notas, inclusive por bom comportamento), e recebia naquelas tardes festivas presentes e homenagens.

Hoje em dia, ambos (primo e irmão da professora) são cidadãos bem sucedidos em suas atividades profissionais que abraçaram. Quanto à professora, já aposentada, é uma ótima e dedicada profissional da área jurídica. A tia é uma tranquila senhora octogenária.

De Boa Vista – RR, para Coreaú – CE, em 02 de junho de 2013.

COSMO CARVALHO, coreauense.
Engenheiro e Advogado.
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