Ar@quém News - segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

As calçadas e o interior

As calçadas são saudosas, intermédio entre a proteção e privacidade da casa e a publicidade da rua. Sempre notei, aqui no interior, que alguns idosos - sobretudo eles - marcam um horário certo para se sentar à calçada. Diariamente, ficam pensativos por horas ali, observando sabe-se lá o que, talvez se lembrando daquilo que viveram, esperando alguma visita para a risonha “prosa”, às vezes com um fiel cachorro vira-lata por perto. 

É na calçada que se fala da vida alheia, que se conta estória de pescador, que se reúne a família à noite para conversar, que se joga o dominó ou o baralho. Tem gente que até janta na calçada, mesmo com as rajadas de poeiras que eventualmente vêm. Arma-se a rede entre as árvores e se põe a balançar, à luz dos postes e da lua. 

Essa calmaria é tão emblemática! Diferente das calçadas da grande cidade, em que se cruzam as pessoas sem se olharem - onde tamanho é o movimento que se apaga até a pintura da cerâmica que as recobre pela fricção de tantos sapatos que vão e vem -, mas à noite se esvaziam, morrem, pelo medo da rua. 

As calçadas cheias de gente no interior são sinais de saúde nestas comunidades, e é nas trocas que se estabelecem nelas que se fortalecem os vínculos entre os que ali partilham o mesmo espaço em comum. É ali que se vê mais visivelmente o sentido de comunidade.

[em acréscimo, um poema que um dia fiz sobre as calçadas, AQUI.]

Benedito Rodrigues
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