Ar@quém News - sexta-feira, 1 de abril de 2011

Opinião: Teria “driblado” a morte, se José Alencar dependesse do SUS?

Temos aí mais um congresso para tratar de saúde pública, a eterna enferma deste País. Mais um morre de dengue em Barbalha, no Cariri. Mas vem aí o XI Congresso dos Secretários Municipais de Saúde. O tema principal é o SUS – Sistema Único de Saúde, ameaçado de falência múltipla dos órgãos. Aliás, se o ex-presidente José Alencar dependesse do SUS, como a grande massa de brasileiros, não teria saído como o grande herói na luta contra o câncer. Teve até um desses cronistas que escreveu que ele conseguiu “driblar” a própria morte que, finalmente, o rendeu.

Ouvi essa informação do médico cearense Antônio Mourão, num dos programas radiofônicos locais que debateu a trajetória e a luta do ex-vice-presidente contra a doença. Depois de justos elogios dos debatedores à fé e coragem de José Alencar para conter o tsunami do câncer que se abateu sobre ele com ondas gigantes de alto poder destrutivo, o professor Mourão mostrou que isso se deveu, em grande parte, ao tratamento de primeiro mundo a que foi submetido nos Estados Unidos e no Hospital Sírio-Libanês de São Paulo. O dinheiro e a função pública bancaram o tratamento.

Mourão não negou nos seus comentários a extraordinária capacidade de superação do ex-vice-presidente da República diante da adversidade. Mas não deixou de ressaltar a qualidade dos recursos que Alencar teve a seu favor, para “driblar” a morte, como escreveu um cronista, e prolongar a vida, mesmo bombardeado sem trégua pelo mal. Certamente, que essas chances não teriam, por exemplo, os dependentes do SUS, que só têm como alternativa um sistema que os obriga a aguardar numa fila sem fim, uma consulta, um exame médico ou uma cirurgia.Vive “esperando a morte chegar”, como escreveu e cantou Raul Seixas, outro cronista da MPB.

É esse debilitado SUS, mais doente do que os doentes que se propõe assistir, que vai mais uma vez para a sala dos diagnósticos, dos exames e debates de gestores públicos, como principal instrumento de saúde pública do governo federal. Os nomes pomposos dos cargos ostentados pelos representantes da alta cúpula da saúde pública brasileira, presentes ao congresso no Ceará, dão-nos uma ideia da fantasia, da demagogia, que se adotou neste País para fingir ação e competência.

Começa pelo tratamento de “Conferência Magna” dado ao evento. Com a presença do secretário de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde. A discussão sobre “Os desafios das articulações interfederativas e a gestão participativa”. E por ápice, a entrega da Medalha Dower Cavalcante, uma espécie de herói do PC do B na guerrilha do Araguaia. Mas onde é que fica mesmo o SUS nessa discussão? Quais os resultados? As mudanças para que funcione? Que respostas o governo tem para a população sofredora, para a classe médica e para os hospitais sucateados? É um artifício para explicar o nada que se fez, com o nada que se tem para fazer.

Wanderley Pereira é jornalista da TV Jangadeiro

Fonte: Blog da Janga
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