Pode parecer algo individual e até sem relevância para muitos. A altura
do ser humano, porém, é mais que uma soma de centímetros que interessa
apenas para quem a detém. Quando uma fita métrica alcança o espaço
entre os pés e a cabeça, indica quais serviços públicos estão ou não
disponíveis, quantos nutrientes estão no fogão das famílias, qual saúde
está acessível à mãe na gestação. A altura é indicador de
desenvolvimento social. E, no Ceará e no Brasil, a notícia é boa:
estamos crescendo.
A altura do cearense adulto fica maior um centímetro a cada década,
aproximadamente. O Estado segue tendência nacional – apesar de ter
índices inferiores aos de Brasil e Nordeste. Números do IBGE indicam que
um cearense nascido em 1955 alcança, em média, 160,2 centímetros,
enquanto um nascido em 1990 chega a 163,8 quando a estatura se
estabiliza – aos 19 anos. Os números foram levantados pelo doutor em
Economia e analista do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do
Ceará (Ipece), Victor Hugo de Oliveira Silva, a pedido do O POVO.
Victor estudou no doutorado o viés econômico da altura. Concluiu que
ela pode ser explicada a partir da qualidade dos alimentos e serviços a
que se tem acesso e pela incidência de doenças na infância. Aspectos
externos somam-se à genética – cuja influência ainda não foi definida
pela ciência, explica o coordenador do Instituto Nacional de Ciência e
Tecnologia de Biomedicina da UFC, Aldo Ângelo Moreira Lima. Ele
pesquisa comunidades cearenses para indicar os genes associados ao
déficit de estatura em crianças. Segundo ele, é a primeira pesquisa do
tipo em países em desenvolvimento. “Só a partir do estudo teremos algo
definidor que relacione genética e crescimento”. Os primeiros
resultados devem sair em seis meses.
O avanço em assistência à
criança, imunizações, escolaridade e a melhoria da população em geral
contribuem para o aumento da estatura, explica o professor Pedro Israel
Cabral de Lima, do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE), que estuda desnutrição e desenvolvimento em
crianças. Ele espera que, em 10 a 15 anos, a estatura do brasileiro
alcance a média do padrão de referência da Organização Mundial de Saúde
- o mais recente estudo, de 2006, indica ser ideal um homem brasileiro
atingir 176,5cm aos 19 anos e a mulher, 163,2cm.
Com pais mais informados, os filhos ganham em cuidado. “Antigamente, a
criança não crescia e ‘ia ficando’. Podia ter deficiência hormonal, mas
ia ficando. Hoje, se tenta acompanhar mais, fazer consulta com o
pediatra”, diz a endocrinologista infantil Carina Barroso, do Hospital
Infantil Albert Sabin.
[...] O acesso a políticas públicas é fundamental para
explicar o crescimento do brasileiro. Programas de transferência de
renda, como Bolsa Família, são importantes quando se fala em estatura
porque, entre outros pontos, garantem dinheiro para que pais e mães
comprem melhores alimentos para as crianças. Porém, defende o professor
Pedro Israel Cabral de Lima, da UFPE, é preciso “dar um passo
adiante”, com mais educação e saúde.
Fonte: O POVO online