Ar@quém News - quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A profundidade do ridículo

A literatura é uma caricatura. Nela, os autores, com suas verves treinadas para a escrita, nada mais fazem (o que não é pouco!) que imprimir uma marca pessoal/histórica naquilo que a vida já oferece aos montes. Basta um olhar mais cuidadoso, regado da curiosidade infantil e do espanto típico dos loucos, para notar as excentricidades, ironias e absurdos que se esbanjam pelo mundo, cujo valor passa despercebido aos olhos dos “comuns”.

Um escritor ou um poeta encontraria muitos personagens interessantes, por exemplo, nas terras de Coreaú. Alguns já os têm retratado - com maestria, até -, mas a fonte passa longe de ter se esgotado.

Nossos tipos populares, “doidos”, cachaceiros, andarilhos, e outros mais, aqueles que são excluídos, postos em cena na mangação, são, na realidade - aqui como em outros lugares -  seres de um profundo simbolismo, e que no seu ridículo, nos seus tiques, nas suas manias, trazem à tona nada menos que o insuportável para os “saudáveis” e nas suas fantasias mostram o homem que quer mais do que alcança. 
Dom Quixote, uma das maiores obras da literatura universal, traz-nos a figura de um louco, como qualquer um desses que vemos por aí, o qual nos espanta não pelo que temos de diferente dele, mas pelo que temos de similar, este beiral da loucura que nos acompanha cotidianamente; sabemos nós não sermos tão “melhores” do que eles e rimos do que mais tememos. 

Não existe uma barreira clara entre “nós” e “eles”. Somos todos humanos, com diferentes formas de se iludir perante a brutalidade do real. 

Afeiçoo-me muito a estes “excêntricos” vagabundos - ou os que “vagam pelo mundo” - sem os quais perderia a ocasião de muitas das minhas mais valiosas reflexões sobre esta vida. Quem sabe noutros textos me aprofunde mais em casos específicos... mas, enquanto não o faço com a necessária disciplina de escrever, que tal se você, como eu o já o fiz, se espantasse um pouco e tentasse ver o que há nas entrelinhas do ridículo que anda à sua frente?

Benedito Rodrigues
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